Há quem diga que não se fazem mais esportivos como antigamente. E opiniões à parte, é bem verdade que alguns dos ícones do setor automotivo lançados há 20 ou 30 anos realmente fizeram a cabeça de muito apaixonado por motores. Dos mais variados modelos, alguns eram hatchs compactos que se destacavam pelo visual arrojado, outros sedãs luxuosos que não deixavam de lado o apelo esportivo e havia ainda espaço para um ou outro mais puxado para o estilo cupê. Confira abaixo uma lista de alguns dos principais desses carros que atiçaram o desejo de muitos por gerações e, em alguns casos, continuam despertando antigas paixões por onde passam.
- Gol GTi
Se aerofólio, pintura em duas cores, bancos esportivos originais e rodas esportivas por si só não são o suficiente para atrair a atenção por onde passa, o Gol GTi mostra debaixo do capô seu maior segredo do sucesso: um motor AP 2000 de 120cv capaz de superar os 100 km/h em pouco mais de 10 segundos, o primeiro com injeção eletrônica de combustível no País que dispensava o uso de carburador.
GTi: primeiro carro com injeção eletrônica do Brasil marcava também pelo visual arrojado
Ele chegou em 1988 já com versão para o ano seguinte, e na oportunidade, teve somente 2.000 unidades lançadas. Rapidamente se tornou mais desejado do que o Gol GTS ou qualquer outro esportivo comercializado no Brasil, tornando-se praticamente um mito, raridade nos dias atuais que chega a ser vendido por mais de R$ 30 mil.
A cor azul era exclusiva da versão esportiva
Em 1995 ele também passou pela reestilização da linha Gol, que chegou à versão "bola", porém, a maior mudança veio no ano seguinte, com a produção do Gol Gti 16v. Com um conjunto importado da Alemanha, o motor 2.0 rendia 141cv, capazes de levar o Vw à casa dos 100 km/h em 8,8 segundos, com velocidade máxima de 206 km/h. Nessa fase ele ficou marcado ainda pelo "calombo" no capô, adotado para comportar o cabeçote no compartimento do motor.
GTi 16v: "calombo" no capô era necessário para acomodar o potente motor
O GTi sobreviveu por mais alguns anos e chegou inclusive à terceira geração do Gol, sendo produzido entre 1999 e 2002, ainda com motor 2.0 16v. Mas por conta da baixa produção, ele talvez seja o mais raro de todos tanto nas ruas quanto nas lojas.
- Opala SS
A sigla de "Super Sport" foi designada para batizar apenas alguns modelos especiais da GM em todo o histórico de sua linha de produção. E nada mais justo do que ela contemplar uma versão do Opala durante alguns dos seus 24 anos de produção no País. O sucesso tanto na época quanto nos dias de hoje é tamanho que recentemente ele foi escolhido por leitores da revista
Quatro Rodas como o maior esportivo nacional de todos os tempos.
O Opala SS foi eleito o maior esportivo nacional de todos os tempos pela revista Quatro Rodas
Lançado em 1971, o Opala SS se diferenciava das demais versões do sedã da Chevrolet por conta de alguns detalhes como o acabamento esportivo, volante de três raios, bancos individuais, câmbio de quatro marchas no assoalho (nos mais simples havia uma alavanca para troca na coluna de direção), rodas esportivas e pintura especial com faixas. O painel era dotado de conta-giros, uma novidade para a época.
O motor também era um tanto quanto atrativo. O 250s, como era chamado, passava de 3.8 para 4.1 litros de seis cilindros na versão esportiva, fornecendo 140cv de potência, o que levou o SS a ser alguns anos mais tarde, o carro mais rápido do Brasil, capaz de atingir 190,4 km/h.
Hoje em dia o modelo é raríssimo: quem tem não vende de jeito nenhum
O modelo que só possuía versão sedã ganhou uma carroceria cupê em 1972, mas apesar do ganho na aerodinâmica, na prática ele saía perdendo para o sedã em arrancada: levava 13,6 segundos para bater a casa dos 100 km/h enquanto a versão anterior o fazia em 12,8. No ano seguinte ele recebeu novas grades e setas além de mudanças no interior e freios dianteiros a disco. Ainda nessa época ele recebeu novo motor, um 2.500cc que tinha como proposta se tornar mais econômico, porém, na prática, esse resultado não foi garantido.
Uma nova geração do SS foi lançada em 1980, mas o sucesso não foi o mesmo das versões antigas
Em 1975 ele passou por uma grande reformulação, ganhando novas linhas, faróis e lanternas. Ele continuou a passar por algumas mudanças mecânicas até 1978, quando sua perua derivada, a Caravan, também ganhou uma versão SS, que de certa forma desprestigiou a silga. Em 1980 ele chegou ao fim de sua produção após outra remodelação, que o tornou com linhas mais quadradas de acordo com faróis e lanternas. A partir de então, o Diplomata passou a ser referência se tratando de Opala, o que no entanto, não foi capaz de diminuir o status representado pelo SS ao longo de muitos anos.
- Escort XR3
Um misto de luxo com esportividade. Talvez não exista uma maneira melhor para definir este que foi um dos maiores ícones do setor automotivo brasileiro durante muitos anos, o Escort XR3. O modelo ganhou uma identidade tão própria que muitos não ousam vincular a sigla ao Escort original, batizando-o apenas pelo sobrenome, derivada de "Experimental Research 3". Enfim, como queiram, o que menos importava era o nome, mas sim a elegância e a presença que marcava por onde passava.
Se nas primeiras versões o teto solar era o diferencial...
Ele chegou por aqui em 1984, junto com o Gol GT, mas logo de cara deu um banho no rival. Isso porque o XR3 não só era mais bonito como também mais equipado e elegante. Ele trazia rodas exclusivas, aerofólio, saias laterais, faróis auxiliares e o que talvez tenha sido seu maior charme, o teto solar. Por dentro, o acabamento também não deixava a desejar com um painel de desenho harmonioso, estofamento caprichado e mimos, como o relógio digital junto ao retrovisor interno, que de cara desbancavam o de certa forma "pobre" GT.
...anos depois, quanto menos teto, melhor!
O motor inicialmente era o CHT 1.6, que convenhamos, não era muito adequado à ele. No entanto, no ano seguinte, o XR3, que já havia se tornado sonho de consumo impulsionado pelo garoto-propaganda da Ford na época, ninguém menos que Ayrton Senna, ganhou um diferencial a mais. Ele foi contemplado com a versão conversível, que era então um dos maiores símbolos de status em 1985. Já alguns anos mais tarde, mais precisamente em 1989, com a parceria entre Ford e Volkswagen, a Autolatina, o XR3 ganhou o motor 1.8 alemão que aliado ao câmbio do Golf rendeu a ele nada menos que 99cv de potência, o que era mais condizente com sua proposta esportiva.
A segunda geração do XR3 era um tanto quanto bonita, mas infelizmente durou pouco
Nessa mesma época ele recebeu ainda a opção de acionamento eletro-hidráulico da capota na versão conversível. Já em 1993, com a nova geração do Escort, o XR3 também foi mudado, porém, esta nova versão nunca conseguiu o mesmo sucesso da antiga. Tanto é que ela durou apenas dois anos, deixando de ser produzida em 1995 já quando utilizava o motor 2.0 com injeção eletrônica. O substituto, o Escort Racer, foi um fracasso total, e deixou muita gente se perguntando até os dias de hoje por que diabos a Ford tirou de sua linha um esportivo de tanto sucesso que foi capaz de despertar o desejo de toda uma geração por tanto tempo...
- Tempra Turbo
Confesso que fiquei numa dúvida danada na hora de escolher com qual carro fechar essa pequena lista. Evidentemente, eu já havia decidido que seria um Fiat, mas vou ficar me perguntando por algum tempo ainda se não seria mais apropriado falar sobre o Marea Turbo. Porém, a escolha já foi feita, portanto, vamos lá.
Diz o ditado que esportivo tem de ser duas portas. Em 94 os engenheiros da Fiat também achavam...
O Tempra sempre foi um carrão. Sedã grande e requintado, apesar das qualidades, ele demorou um pouco a engrenar por aqui. Não é que vendesse mal no início dos anos 90, quando foi lançado, mas a concorrência era pesada: nada menos do que o Chevrolet Omega, esse que muito provavelmente tenha sido um dos maiores carros já visto por aqui.
O interior era luxuoso com um painel moderno e cheio de comandos
Quando foi lançado, em 1994, o Tempra Turbo chegou como mandava o figurino. Sedã sim, esportivo mais ainda e de duas portas, por favor. O motor, um feroz 2.0 8v de 165cv roncava alto e era capaz de ultrapassar a barreira dos 200 km/h. Segundo a Fiat, ele chegava aos 220, mas a imprensa deu menos, "apenas" 210 km/h. Mas o mais surpreendente era a aceleração: fazia de 0 a 100 em pouco mais de 8 segundos pisando forte.
No detalhe da grade dianteira ele já fazia questão de mostrar sua vocação
Tamanha era a capacidade do Tempra Turbo, que para muitos, ele foi mais carro que o Omega. É um páreo duro, mas os opcionais como ar condicionado digital, bancos em couro com regulagem elétrica e freios ABS realmente faziam a diferença. Já por fora, a ausência do borrachão lateral, aerofólio traseiro e a sigla "Turbo" na grade dianteira já simbolizavam de longe o que a marca italiana tinha de melhor no Brasil.
Apesar do sucesso, em 1997 ele foi substituído pelo Tempra Stile, que também não durou muito tempo, dando lugar ao Marea logo em seguida. É bem verdade que ele foi bem substituído, mas nem por isso, o Tempra Turbo deixou de largar uma infinidade de "órfãos" saudosistas que ainda torcem o pescoço até hoje diante de um bom exemplo do que significava esportividade e luxo há pouco mais de 15 anos.
Texto: César Santana
Fotos: Divulgação